Lentamente o rugido da cidade a acordar chega à cobertura do décimo primeiro andar na Lapa onde, faz poucas horas, adormeci. Sao nove da manhã e, apesar de hoje estar mais fresco, o calor instala-se no corpo até tornar o sono insuportável. Penso no meu primeiro açai de ontem, e na roda de samba do morro da Conceição junto da pedra do sal, na visita à comunidade da favela do Jacaré e na conversa com um velho desdentado e magro que se sentou na nossa mesa de um boteco na zona portuária e declamava Neruda e Fernando Pessoa. Parece que nada mais falta acontecer. Mas esta cidade parece que guarda surpresas a cada esquina. É um labirinto de cortinas finas que são sempre demasiado frágeis para conter a fricção entre camadas tectónicas que se esfregam sobre uma geografia natural louca produzindo energias brutais. É o que eu ouço aqui em cima: a cidade a deslocar-se lenta e perra, em fricção constante. Desde o acordar. Quando fui mergulhar no mar de Ipanema, faz dois dias, deparei-me com um e...
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