Logo no início deste artigo, Miguel Sousa Tavares revela o grande equívoco que fundamenta o seu pensamento peçonhento sobre colonialidade. Num comentário lateral, MST critica o escritor Cabo-verdiano Mário Lúcio pelo seu ‘fraco uso desta extraordinária língua que lhe deixámos em herança’.
Independentemente do que se ache sobre as qualidades literárias do texto ‘Como está-tua ex-celência?‘, para MST o autor Cabo-verdiano escreve numa língua que a sua tribo herdou da ’nossa’ tribo. MST sente-se parte de um ‘nós’ especial, constituído pela história para avaliar o uso que ‘eles’ fazem do legado que ‘nós’ espalhámos pelo mundo. É como se hoje a língua pertencesse a Tavares mais do que pertence a Lúcio, tendo este de ter especial cuidado com a forma como a usa.
Enebriado por imaginar-se nessa posição de autoridade, MST prossegue no seu tom habitual, demolindo tudo menos estátuas. E nem sequer repara MST na contradição em que cai poucas linhas depois. A história é nossa e não deles mas só até se falar de escravidão. Aí, quem ouve os ecos do passado são eles. O Nós presente não tem nada a haver nem a dever a esse passado.
Os nós de Tavares não o atam ao passado esclavagista. Quem deveria escutar esses ecos do passado seriam os dirigentes africanos que são os verdadeiros continuadores da escravização transatlântica. Nós (chamemos-lhe Nós, os Tavares) continuamos a receber bem os ingratos africanos que vêm para a Europa dizer mal do nosso país. E se o Mário Lúcio nem português é, a Joacine Katar Moreira, por sê-lo, não deixa de ser apontada no final como mais uma ingrata africana que decepcionou a hospitalidade e a grandeza que emana desse ‘nós’ exclusivo, purificado e ungido. Nós, os Tavares, não mandamos os negros para as suas terras como esse vilão do Ventura. Não! Nós, os Tavares, somos bonzinhos, liberais e superiores. Somos superiores aos Venturas racistas e aos Africanos ingratos. Nós, os Tavares continuaremos a dialogar com uns e a receber bem os outros, mas sempre vigiando-os para que não desbaratem a herança que lhes deixámos.
"Estamos em Seca", Cartaz da Thames Waters, Londres Abril de 2012 (foto de Delemere Lafferty ) Danças da Chuva: Austeridade e Abundância Para Todos (Maio, 2012) O que se passa com a água em Inglaterra ajuda-me a entender o que significa austeridade, a necessidade que temos dela e algumas das suas contradições. Tal como nas economias europeias, a chuva continua a cair, mas não chega onde é preciso. Ao contrario das economias europeias, não existem sistemas financeiros com que se conta para regular a necessária redistribuição e racionalização de recursos. Por isso faz-se uso de campanhas e leis que são iguais para todos. Talvez este exemplo nos esteja a mostrar um caminho melhor. Abril de 2012 foi o Abril mais chuvoso de que há memória meteorológica em Inglaterra ou seja, desde 1910 . Em algumas regiões houve dias que mais do que duplicaram os anteriores recordes de pluviosidade. E mesmo assim, grande parte do país tem estado e continua a estar oficialmen...