Skip to main content

Timor, Xanana e Suharto

Suharto morreu. O homem que dominou as forças responsaveis por um dos mais eficazes genocídios da História pós-expansão colonial foi a enterrar. Com cerimónias de Estado, elogios proferidos pelo actual presidente e a presença do líder do povo que ele tentou dizimar, o antigo chefe de Estado Indonésio terminou assim com chave de ouro a sua passagem pelo mundo.
Para quem viu Xanana no século passado a contar a historia dos dias da resistência logo a seguir a jurar fidelidade ao país opressor ostentando marcas da presão inquisitória, vê-lo hoje em Jacarta a honrar o ex-lider do pais religioso que tentou impor a sua lei e religião ao seu povo, é mais um motivo de perplexidade.
E como é fácil deixarmo-nos surpreender por um país do qual quase nada sabemos, apesar de lá se falar a nossa língua. Julgamos tudo entender quando percebemos que parte dos lideres timorenses educados em português falam muito pouco das línguas do povo de que são elite. Mas logo ficamos a saber que esse mesmo povo abraçou um plano de reconciliação com práticas tão surpreendentes como os abraços entre os familiares das vítimas e os membros das milícias assassinas, ou a de estes darem os seus filhos como única forma de retribuição aos pais daqueles que mataram. E que a guerra civil se despoletou num país onde os resultados das eleições demoravam eternidades a chegar aos pontos mais remotos provocando informaçóes contraditorias manipuladas ao sabor dos interesses políticos.
Assim ficamos, sem explicações, à espera de receber relatos triangulados destas histórias e que já agora tragam alguma luz sobre este povo ainda de alguma forma dependente dos politicos que elegemos em Portugal. Basta pensar que há ainda (?) um contingente da GNR integrando uma força multinacional no terreno. Por isso não vale a pena desprezar o país só porque é pequeno, está longe e é difícil de entender. Ainda por cima um país tão rico em belza e recursos naturais.
A verdade é que, se o governo dos EUA é em grande parte responsável pelo genocídio, é a uma estação de informação Estadunidense e a uma jornalista do mesmo país que devemos esta fantástica reportagem.

Popular posts from this blog

"Estamos em Seca!"

"Estamos em Seca", Cartaz da Thames Waters, Londres Abril de 2012 (foto de Delemere Lafferty ) Danças da Chuva: Austeridade e Abundância Para Todos (Maio, 2012) O que se passa com a água em Inglaterra ajuda-me a entender o que significa austeridade, a necessidade que temos dela e algumas das suas contradições.  Tal como nas economias europeias, a chuva continua a cair, mas não chega onde é preciso. Ao contrario das economias europeias, não existem sistemas financeiros com que se conta para regular a necessária redistribuição e racionalização de recursos. Por isso faz-se uso de campanhas e leis que são iguais para todos. Talvez este exemplo nos esteja a mostrar um caminho melhor. Abril de 2012 foi o Abril mais chuvoso de que há memória meteorológica em Inglaterra ou seja, desde 1910 . Em algumas regiões houve dias que mais do que duplicaram os anteriores recordes de pluviosidade. E mesmo assim, grande parte do país tem estado e continua a estar oficialmen...

Minute nods

Life in the city is made possible by a fragile web of mutual trust, though a filigree of unspoken pleasantries, and an intricate meshwork of altruistic gestures. A permanent exchange of mute interrogations and minute nods between strangers forms a complex language that ensures the common conditions for survival. Of course we can see bodies looking past other bodies, trying to walk though, overtake, get there before them, without knowing very well where exactly is there, or whether there is in fact a desired place, or if what there is to do there is actually what needs doing. But that is always what is emphasised when talking about the city, isn't it, the rat race. It's a gross version of urban metabolism in which life and its processes are reduced to competition between contained unities, as if one had just arrived from a rushed reading of the theory of evolution and had forgotten how life is sustained by a convuluted tangle of symbiotic connections with other animals, pla...

Bodies and media

The circulation of abstract values through global interconnected networks sprawls on the back of the possibility of transporting information independently from its bodily carriers (Bauman, 1998: 14). It is, then, an apparent contradiction that the development in technologies of information and communication has so far contributed to bring people closer to each other. There have never been so many people living in so many and so dense cities as today. Inside most of those cities, financial districts develop and concentrate agents and functions of different markets. We tend to think that the functions of the new economy could be performed at distance. Even if those markets deal with abstract commodities, abstract risks, or serve abstract forms of capital, the actors and the networks through which they connect are real and material, and it takes time and energy to transport through space the people and materials with which they deal. Moreover, the means of transporting people, objects, in...