Todos os dias Julian Kepler se veste de azul e se entrega ao estranho hábito de deglutir argolas de fumo, ou gotas de orvalho dependendo da saúde dele e do índice nasdaq. Todos os anos por esta altura, reparou ele do alto dos seus trinta e um anos, o tempo aquece e os saltos dos sapatos ganham um centímetro de altura.
No fundo do quintal, alguém se esqueceu de sair e ficou acordado junto ao portão contando as pétalas brancas à medida que elas despontavam na árvore das palavras. Sem direcção, os olhos postos nos objectivos repetidos do ser, em aldeias brancas como a neve que nunca lá caiu e nas suas calçadas gastas dos beijos desperdiçados por casais desavindos. Sem medo de desenrolar o corpo pelo caminho, músicos surdos, escritores bloqueados, bêbados abstémios, todos vieram para a grande reunião dos encalhados. O dia começava a demolir a arquitectura de luz construída com tanto trabalho, a desmontar o palco e todos os desmandos que fez no caminho.
Sou um átomo, uma mole, uma molécula, um aglomerado de vazios que nada encontra em seu redor. Em cada pedaço de mim há um bocado de sêde pronta a desenrolar-se como uma língua seca desesperada, procurando o caminho pelos cantos claustrofóbicos do teu quarto. Sem desejo, sem desenhos de cabelos desalinhados, líquidos derramados, sabemos que a luz não voltará. O aquecimento local perde o passo nas águas desarrumadas pela sua própria perturbação. A chuva fechou a porta e deitou a chave na sarjeta. Para garantir que continuo preso a este claustro, mantenho a vigilância apertada na janela. A dor que percorre o meu corpo, deixo-a passar, deixo-a espalhar-se pelos cantos da minha boca, deixo-a viajar serena. Assisto à competição paralela entre os candeeiros dos caminhos que percorrem o espaço à tua volta e o que espalha um cone de luz na minha mesa. Sabemos quais as prisões que se desfazem com um toque de dedo. Então porque nos deixamos prender a vícios, a paixões, a lições, porque deixamos que nos encurralem grades tão mais frágeis do que fios de aranha?
No fundo do quintal, alguém se esqueceu de sair e ficou acordado junto ao portão contando as pétalas brancas à medida que elas despontavam na árvore das palavras. Sem direcção, os olhos postos nos objectivos repetidos do ser, em aldeias brancas como a neve que nunca lá caiu e nas suas calçadas gastas dos beijos desperdiçados por casais desavindos. Sem medo de desenrolar o corpo pelo caminho, músicos surdos, escritores bloqueados, bêbados abstémios, todos vieram para a grande reunião dos encalhados. O dia começava a demolir a arquitectura de luz construída com tanto trabalho, a desmontar o palco e todos os desmandos que fez no caminho.
Sou um átomo, uma mole, uma molécula, um aglomerado de vazios que nada encontra em seu redor. Em cada pedaço de mim há um bocado de sêde pronta a desenrolar-se como uma língua seca desesperada, procurando o caminho pelos cantos claustrofóbicos do teu quarto. Sem desejo, sem desenhos de cabelos desalinhados, líquidos derramados, sabemos que a luz não voltará. O aquecimento local perde o passo nas águas desarrumadas pela sua própria perturbação. A chuva fechou a porta e deitou a chave na sarjeta. Para garantir que continuo preso a este claustro, mantenho a vigilância apertada na janela. A dor que percorre o meu corpo, deixo-a passar, deixo-a espalhar-se pelos cantos da minha boca, deixo-a viajar serena. Assisto à competição paralela entre os candeeiros dos caminhos que percorrem o espaço à tua volta e o que espalha um cone de luz na minha mesa. Sabemos quais as prisões que se desfazem com um toque de dedo. Então porque nos deixamos prender a vícios, a paixões, a lições, porque deixamos que nos encurralem grades tão mais frágeis do que fios de aranha?