Skip to main content

Este tempo em que o ultraje é o principal mecanismo de amplificação de mensagens ultrajantes

Um fadista de boa voz mas duvidoso talento escreveu na sua pagina de facebook um comentário racista, homofóbico, e ignorante (passe a redundância). O pessoal reagiu revoltado, ultrajado, levando o autor do comentário inicial a nova posta, desta vez com leitores em número multiplicado, insultando os que o criticarem de não serem tolerantes com a sua opinião. O Público publicou um texto sobre a "notícia", citando uma entrevista à revista Flash onde o fadista confirma o seu racismo e homofobia dizendo que as reacções provêm de pessoas que "saltam dos armários ou saltam das cubatas".
Ora a única coisa que se ganhou com esta polémica foi ficar a saber que o fadista João Braga é também um idealista nostálgico que sonha com um tempo em que os negros viviam em cubatas e os homossexuais tinham de esconder a sua sexualidade em 'armários' secretos. É muito pouco ganho para a disseminação da sua mensagem que as reacções provocaram. Não se espera que a formalização das queixas traga qualquer sanção de efeito substantivo. Também não é provável que provoque algum acto de introspecção do fadista ou daqueles que, agora com maior probabilidade, possam  entrar em contacto com a sua peculiar perspectiva sobre escravatura, relações raciais, liberdade sexual, e liberdade de expressão.
Mas mesmo assim é irresistível escrever, reagir, e ao fazê-lo, partilhar, multiplicar audiências, e transportar uma perspectiva odiosa, anti-humanista e insidiosa para partes da esfera pública onde ela pode encontrar forma de germinar. Como é intrincado este dilema do tempo em que o ultraje se torna o principal aliado do ultrajante!

Popular posts from this blog

Post-..."Tomorrow composts today"

“So it was I had my first experience with the Accelerator. Practically we had been running about and saying and doing all sorts of things in the space of a second or so of time. (…) But the effect it had upon us was that the whole world had stopped for our convenient inspection.” H.G.Wells, 1901, The New Accelerator in Modern Short Stories, The growth of cities has created bigger opportunities for (and was in many ways led by) the production of new needs. With consequent increase in waste production. Part of this waste is the result of consumption: composed by materials and objects that were destroyed by human use or have decayed over time. But an increasing part of this waste is generated through symbolic processes, i.e., created by the production of consumption, by industries whose main products are new forms of desire. Since innovation is the main drive of economy, commodities are produced for worlds that do not exist yet, worlds which they will help shape. This power of transforma

sobre a desigualdade entre os homens

Waiting Room

...and did you cook dinner?