Skip to main content

Este tempo em que o ultraje é o principal mecanismo de amplificação de mensagens ultrajantes

Um fadista de boa voz mas duvidoso talento escreveu na sua pagina de facebook um comentário racista, homofóbico, e ignorante (passe a redundância). O pessoal reagiu revoltado, ultrajado, levando o autor do comentário inicial a nova posta, desta vez com leitores em número multiplicado, insultando os que o criticarem de não serem tolerantes com a sua opinião. O Público publicou um texto sobre a "notícia", citando uma entrevista à revista Flash onde o fadista confirma o seu racismo e homofobia dizendo que as reacções provêm de pessoas que "saltam dos armários ou saltam das cubatas".
Ora a única coisa que se ganhou com esta polémica foi ficar a saber que o fadista João Braga é também um idealista nostálgico que sonha com um tempo em que os negros viviam em cubatas e os homossexuais tinham de esconder a sua sexualidade em 'armários' secretos. É muito pouco ganho para a disseminação da sua mensagem que as reacções provocaram. Não se espera que a formalização das queixas traga qualquer sanção de efeito substantivo. Também não é provável que provoque algum acto de introspecção do fadista ou daqueles que, agora com maior probabilidade, possam  entrar em contacto com a sua peculiar perspectiva sobre escravatura, relações raciais, liberdade sexual, e liberdade de expressão.
Mas mesmo assim é irresistível escrever, reagir, e ao fazê-lo, partilhar, multiplicar audiências, e transportar uma perspectiva odiosa, anti-humanista e insidiosa para partes da esfera pública onde ela pode encontrar forma de germinar. Como é intrincado este dilema do tempo em que o ultraje se torna o principal aliado do ultrajante!

Popular posts from this blog

Em Boa Hora

Não que eu tenha vindo para o Brasil a banhos... Não que eu não estivesse já avisado para o frio outonal do planalto Curitibano. Aqui estamos a mil metros de altitude e a temperatura é muitas vezes 10 graus abaixo da das zonas ao nível do mar, mesmo as que ficam mais a Sul. Não que eu não soubesse já dos caprichos do clima desta região. Mas custou encarar. Depois de um fim de semana a derreter, felizmente na praia de Matinhos, e de um feriado de quarta-feira passado na água gelada de uma nascente aqui em Curitiba, na quinta-feira o céu decidiu desabar sobre a cidade. E ainda não parou. Nas primeiras horas ainda com tempo quente. Mas entretanto a temperatura desceu em queda livre e estou agora mais frio do que Londres... Mas, pensando bem, veio em boa hora esta oportunidade para ficar na minha, abrigado, sossegado, sem ceder a tentações cervejísticas, cachacísticas ou musicais. "Eu não quero sair, hoje eu vou ficar queto, não adianta insistir, eu não vou no boteco..." É melhor...

Nós

Logo no início d este artigo , Miguel Sousa Tavares revela o grande equívoco que fundamenta o seu pensamento peçonhento sobre colonialidade. Num comentário lateral, MST critica o escritor Cabo-verdiano Mário Lúcio pelo seu ‘fraco uso desta extraordinária língua que lhe deixámos em herança’. Independentemente do que se ache sobre as qualidades literárias do texto ‘Como está-tua ex-celência? ‘, para MST o autor Cabo-verdiano escreve numa língua que a sua tribo herdou da ’nossa’ tribo. MST sente-se parte de um ‘nós’ especial, constituído pela história para avaliar o uso que ‘eles’ fazem do legado que ‘nós’ espalhámos pelo mundo. É como se hoje a língua pertencesse a Tavares mais do que pertence a Lúcio, tendo este de ter especial cuidado com a forma como a usa. Enebriado por imaginar-se nessa posição de autoridade, MST prossegue no seu tom habitual, demolindo tudo menos estátuas. E nem sequer repara MST na contradição em que cai poucas linhas depois. A história é nossa e não deles ...

Of Dames and Baronesses

Never call a baroness, dame Or the other way around You will offend both Along with a taxonomy Honed through years Of meticulous study Notice how the dame slides While the baroness slithers One withers The other wears out Pay attention to dames They are more subtle Restrained Domestic Beware of baronesses They will reproach you Tame you And then dance with the curtains When the dame is lost for words The baroness will produce the right statement When the baroness looses control The dame will bring her to her senses One is not better than the other Nor higher Nor more sophisticated Nor even more evolved They are just different And when you miss human differences You are less human yourself